Qual sua concepção
particular de cidadania? Você acredita que sua estrutura psicológica
(valores, crenças e atitudes) estão fundadas em uma dada concepção
de cidadania ou você acredita que cidadania caracteriza tão somente
determinado modo de comportamento, que pode ou não ser adotado?
Pois bem, se você
acredita que cidadania caracteriza determinado modo de comportamento,
passível de adoção ou não, tentarei expor alguns argumentos que,
espero, lhe façam refletir sobre a possibilidade de sua estrutura
psicológica estar fundada em uma concepção de cidadania específica,
mesmo que você não tenha consciência dela.
Historicamente,
certos fenômenos exerceram influência extremamente invasiva
sobre a concepção humana de perceber e interagir com o mundo. A
força dessa influênciafoi tal que se tornou algo natural, quase
imperceptível no dia a dia da maioria das pessoas e necessária para os modos de vida. O desenvolvimento da agricultura, há
cerca de 10.000 anos, foi um desses fenômenos: sem ela e o estágio
de desenvolvimento atingido, milhões de pessoas não teriam como
alimentar-se. Outro exemplo é o da revolução industrial, no século
XVIII: sem o advento da mecanização, nossos padrões de vida seriam
totalmente diversos.
Desde meados do século
passado, mas principalmente a partir da década de 80, um novo
fenômeno está mudando a nossa concepção do que seja o mundo e
qual a forma adequada de nele vivermos. Esse fenômeno é o da
Tecnologia da Informação e Comunicação de natureza digital (TIC).
A maioria das pessoas não tem clara consciência das transformações conceituais por que passamos e acredita que a TIC associa-se tão somente ao fato de possuir um computador, conectar-se a internet e navegar pela web. Mas a realidade não é bem assim.
A maioria das pessoas não tem clara consciência das transformações conceituais por que passamos e acredita que a TIC associa-se tão somente ao fato de possuir um computador, conectar-se a internet e navegar pela web. Mas a realidade não é bem assim.
De acordo com Luciano Floridi, filósofo que se dedica ao estudo do tema, o impacto das
inovações tecnológicas derivadas da TIC faz-se notar em quatro
áreas distintas que determinam, em larga escala, o modo
contemporâneo de vida social: Computação, Automatização de
processos e controles, Modelagem associada a realidade virtual e
Gerenciamento de informações.
A computação é o
componente mais explícito da revolução ora em curso. Compreende o
aumento na capacidade de processamento, a massificação do acesso e
diminuição no preço final dos computadores. O computador hoje é
acessível a praticamente qualquer pessoa (praticamente qualquer
pessoa por que, infelizmente, o Brasil está repleto de bolsões de
miséria, seja no sentido econômico, seja no sentido intelectual).
A automatização de
processos e controles teve inicio no mundo corporativo, como modo de
acompanhamento, redução de custos e detecção de falhas no
processo produtivo (CNC, CAM, CAD, etc), e expandiu-se rapidamente
para todos os âmbitos da vida social, privada ou pública.
Talvez a ideia não seja intuitiva, mas o modelo de Educação a Distância adotado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) insere-se no conceito de automatização de processos e controles: aulas são preparadas para autoestudo, difundidas em plataformas específicas (Moodle, por exemplo), o acompanhamento do aprendizado operado por instrutores virtuais e o aprendizado do aluno verificado por intermédio de tarefas, em sua maioria, virtualmente entregues (existe a necessidade, para controle, de um ou mais exames presenciais).
Noções de tempo e espaço são drasticamente transformadas, pois o aluno gerencia seu tempo e lugar de estudo de acordo com suas necessidades e disponibilidades.
O salto qualitativo no aprendizado é significativo na medida em que o aluno deixa de ser um ator passivo em que, fundamentalmente, recebe o saber, para ser um agente de construção do conhecimento. Daí, por exigir participação ativa (prática culturalmente um tanto quanto desvalorada entre nós), os elevados índices de evasão.
Talvez a ideia não seja intuitiva, mas o modelo de Educação a Distância adotado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) insere-se no conceito de automatização de processos e controles: aulas são preparadas para autoestudo, difundidas em plataformas específicas (Moodle, por exemplo), o acompanhamento do aprendizado operado por instrutores virtuais e o aprendizado do aluno verificado por intermédio de tarefas, em sua maioria, virtualmente entregues (existe a necessidade, para controle, de um ou mais exames presenciais).
Noções de tempo e espaço são drasticamente transformadas, pois o aluno gerencia seu tempo e lugar de estudo de acordo com suas necessidades e disponibilidades.
O salto qualitativo no aprendizado é significativo na medida em que o aluno deixa de ser um ator passivo em que, fundamentalmente, recebe o saber, para ser um agente de construção do conhecimento. Daí, por exigir participação ativa (prática culturalmente um tanto quanto desvalorada entre nós), os elevados índices de evasão.
A modelagem associada
com a realidade virtual sistematiza a noção de que o mundo humano,
embora derivado do mundo físico, é um mundo inventado, construído
pela ação coletiva (pelo menos por aqueles que não aceitam a
passividade de comportamentos).
De natureza matemática, a modelagem permite a criação de cenários específicos para o mundo real e sua representação digital. A realidade da natureza transforma-se em realidade virtual, com previsão de eventos e cálculo de resultados. Para quem duvida, verifique o procedimento dos Estados Unidos frente a um de seus maiores adversários da atualidade, o Irã. Com representações diplomáticas banidas fisicamente do Irã, os americanos recentemente inauguraram sua representação diplomática virtual para aquele país. Ao governo do Irã restou apenas o protesto e o discurso ideológico.
De natureza matemática, a modelagem permite a criação de cenários específicos para o mundo real e sua representação digital. A realidade da natureza transforma-se em realidade virtual, com previsão de eventos e cálculo de resultados. Para quem duvida, verifique o procedimento dos Estados Unidos frente a um de seus maiores adversários da atualidade, o Irã. Com representações diplomáticas banidas fisicamente do Irã, os americanos recentemente inauguraram sua representação diplomática virtual para aquele país. Ao governo do Irã restou apenas o protesto e o discurso ideológico.
A últimas das esferas
em que a revolução digital acontece situa-se no gerenciamento de
informações. Nesta, todo e qualquer informação é classificada,
catalogada, armazenada e recuperada de acordo com necessidades
específicas. É graças ao seu desenvolvimento e expansão para
todos os setores da vida social que a primeira empresa brasileira de
semicondutores, a Ceitec, começou a operar comercialmente fabricando
o “Chip do Boi”: um chip individualizado que permite a
rastreabilidade da vida de um animal, requisito para exportação de
carne bovina para os mercados externos. Outra aplicação do
gerenciamento de informações é o novo Registo de Identidade Civil
que, em 10 anos, identificará digitalmente todos os brasileiros.
As implicações éticas
da revolução propiciada pela TIC ainda não são completamente
imaginadas ou previstas. Mas, provavelmente, afetarão de modo
significativo nossa compreensão do que signifique ser cidadão. A razão é simples: a Tecnologia de Informação e Comunicação reformulou e continua alterando nossa percepção do que seja uma vida digna ao espraiar-se por todos os segmentos da vida social e tornar-nos profundamente dependentes de seus efeitos. Se você duvida, examine sua dependência de seu cartão de crédito, de sua conta bancária ou do transporte que você utiliza diariamente. São faces da vida contemporânea capilarmente apoiadas e dependentes da tecnologia da informação e comunicação digital.